O Curso de “Biblioteconomia e Documentação” da USP está dentro de uma Unidade denominada Escola de Comunicações e Artes. Como essa “Biblioteconomia” não é Artes Plásticas, Artes Cênicas ou Música, só pode ser Comunicação. Disso resultou uma dúvida generalizada: o “bibliotecário” é um comunicador? A tendência inicial é dar uma resposta positiva, uma vez que ele atende a um determinado público e se relaciona com esse público e, portanto, se comunica com esse público. Na prática, como isso se dá? Uma biblioteca bem organizada deve dispor de instrumentos que, normalmente, estão no âmbito do que se denomina “comunicação organizacional”, visando produzir mensagens com o uso de todos os meios para estabelecer a imagem que se deseja para os serviços oferecidos. Mas isso não indica que o “bibliotecário” possa ser caracterizado como comunicador. Se assim fosse, quaisquer profissionais seria, pois todos procuram ter uma boa imagem junto ao seu público. A pergunta feita era um pouco mais complicada: esse profissional é um informador ou um comunicador? Aí está o nó, pois é preciso distinguir com precisão o que é informação e o que é comunicação.
Li esta frase de autoria de George Gilder (?) e a dúvida aumentou: “Passaremos do século da Informação para o século da Comunicação. A primeira está em quem transmite. A segunda está em quem recebe.” Tenho algumas idéias sobre isso, mas não é pertinente trazê-las aqui. Vou dar uma volta bem ampla e tocar numa nova modalidade de serviço – ainda um objeto não claramente identificado: o “museu virtual”. Aliás, não dizem que a Biblioteconomia, Museologia e Arquivologia são irmãs? E filhas de quem? Da “Ciência da Informação”?
Em São Paulo temos dois conhecidos museus virtuais: o da Língua Portuguesa e o do Futebol. Foi inaugurado, recentemente, outro, uma espécie de museu da ciência, aqui denominado Catavento, que também usa recursos da computação. Podemos fazer alguns exercícios mentais, engendrando um “Museu Virtual da Comunicação”. Nesse museu um segmento, certamente, seria Gutenberg e a Imprensa. Num determinado ambiente o usuário poderia ver em três dimensões os tipos móveis e a prensa primitiva. Eventualmente, teria interesse em ver a famosa Bíblia e folheá-la. Isso seria feito por meio do Kindle que traria à mão (veja o próximo post). E mais, se fosse de seu desejo teria acesso à bibliografia do século XVI por autor, assunto, data de edição... Posso voltar ao ambiente três dimensões e ver bibliotecas desse século... e assim num desdobramento infinito teria alcance à informação apresentada sensorialmente, bem como navegaria pelos registros digitalizados. Em outras palavras, num mesmo serviço e ambiente poderia juntar o museu virtual com a biblioteca digitalizada.
Isso não é delírio e nem profetismo: é possível e com preços progressivamente menores. E vem a pergunta fatal: quem criaria serviços como esses? O comunicador ou o informador? Ou será que tudo isso não se funde num único profissional com outras práticas e outra visão de mundo?