Se a “biblioteca escolar” deveria ser a prioridade primeira num projeto amplo de desenvolvimento social – e não é, e está relegada até pelos profissionais da informação – a “biblioteca pública”, doravante denominada “informação pública”, não fica atrás, pois o seu público é bem maior. Muitas vezes me pergunto por que a informação pública sumiu da preocupação dos bibliotecários. Potencialmente, é um trabalho fascinante pelos diversos desafios que encerra e pela competência e diversidade de conhecimentos que exige do profissional. Mas esse campo foi, praticamente, abandonado e entregue, de vez, a funcionários municipais sem nenhum preparo prévio. Quando existe, é a biblioteca municipal, quase sempre, uma repartição pública de utilidade duvidosa, ancorada numa coleção de livros e numa rotina restrita a emprestar livros para poucos leitores.
Atualmente, com o desenvolvimento da internet, a crise aumentou e as velhas e novas perguntas continuam sem respostas. O que pode existir, além da iniciativa municipal, é a política do Estado ou da União, ambas, no presente, extremamente conservadoras. A maioria segue o modelo do antigo INL – Instituto Nacional do Livro – criado no Estado Novo nos anos 40 do século passado, cuja missão essencial era distribuir livros. Hoje, com tantas voltas que o mundo deu, persiste-se nessa prática: “livros a mancheias”. E de tal forma que desconfio que esses projetos sejam mais de interesse das editoras e menos da população.
Em 1983 foi instituído em São Paulo o Sistema de Bibliotecas Públicas que, na época, trazia propostas novas, cuja base era a transformação das precárias bibliotecas municipais em centros de cultura, abrindo um amplo espaço para a “ação cultural”. Hoje, se for desenhado um projeto abrangente para a informação nas cidades, um novo modelo deverá ser criado. No entanto, não há notícias de trabalhos desenvolvidos por profissionais da informação para a área pública. Alguém conhece?
Como no caso da “biblioteca escolar”, a pública é ampla, a mais ampla das categorias, pois pode chegar à quase totalidade da população em 5.562 municípios. Esse imenso território foi abandonado por falta de políticas públicas de informação. E por que não existem essas políticas? Certamente, porque não interessa ter. A quase totalidade dos prefeitos não tem a menor idéia do que se trata – o que é previsível. Por outro lado, não se pode esperar da população que ela reivindique o que desconhece. E como reagimos nós que conhecemos muito bem o potencial da informação para a sociedade? Tradicionalmente, os profissionais da informação ficam à distância do poder público e, dificilmente, interferem em seu formato. Quando toco nesse assunto, os mais jovens reagem positivamente, mas os mais velhos olham com um ceticismo pétreo. Por que a descrença? Talvez considerem a informação pública como a antiga “biblioteca municipal” e acham que isso está mesmo superado, é um caso perdido e nada há para se colocar no lugar. Percebi, também, um pensamento tosco e perverso: o trabalho com esse público – leia-se: a população como um todo – é “simples”, “fácil” e não exige um desenvolvimento intelectual maior por parte do profissional. Esses modos de pensar, talvez, expliquem o distanciamento que existe entre os novos profissionais e a população. Certamente, alguém vai atribuir aos baixos salários na esfera pública a debandada geral. Mas baixo salário não é causa, mas conseqüência da falta de políticas públicas de informação.
Uma das tarefas que solicitava aos meus alunos era a seguinte: “Se um prefeito esclarecido de uma cidade de 30 mil habitantes pedisse a você para construir um serviço de informação pública que plano apresentaria?” É uma tarefa difícil, provocativa mesmo, e não só para os alunos, mas para quaisquer profissionais, inclusive para os “cientistas da informação”. Creio que as universidades públicas – onde se concentra, hoje, a maioria dos cursos de “biblioteconomia” e derivados – devem dar uma resposta, pois elas, pelo seu caráter público, têm compromissos com o público. Ou não? Será que estou delirando?
Atualmente, com o desenvolvimento da internet, a crise aumentou e as velhas e novas perguntas continuam sem respostas. O que pode existir, além da iniciativa municipal, é a política do Estado ou da União, ambas, no presente, extremamente conservadoras. A maioria segue o modelo do antigo INL – Instituto Nacional do Livro – criado no Estado Novo nos anos 40 do século passado, cuja missão essencial era distribuir livros. Hoje, com tantas voltas que o mundo deu, persiste-se nessa prática: “livros a mancheias”. E de tal forma que desconfio que esses projetos sejam mais de interesse das editoras e menos da população.
Em 1983 foi instituído em São Paulo o Sistema de Bibliotecas Públicas que, na época, trazia propostas novas, cuja base era a transformação das precárias bibliotecas municipais em centros de cultura, abrindo um amplo espaço para a “ação cultural”. Hoje, se for desenhado um projeto abrangente para a informação nas cidades, um novo modelo deverá ser criado. No entanto, não há notícias de trabalhos desenvolvidos por profissionais da informação para a área pública. Alguém conhece?
Como no caso da “biblioteca escolar”, a pública é ampla, a mais ampla das categorias, pois pode chegar à quase totalidade da população em 5.562 municípios. Esse imenso território foi abandonado por falta de políticas públicas de informação. E por que não existem essas políticas? Certamente, porque não interessa ter. A quase totalidade dos prefeitos não tem a menor idéia do que se trata – o que é previsível. Por outro lado, não se pode esperar da população que ela reivindique o que desconhece. E como reagimos nós que conhecemos muito bem o potencial da informação para a sociedade? Tradicionalmente, os profissionais da informação ficam à distância do poder público e, dificilmente, interferem em seu formato. Quando toco nesse assunto, os mais jovens reagem positivamente, mas os mais velhos olham com um ceticismo pétreo. Por que a descrença? Talvez considerem a informação pública como a antiga “biblioteca municipal” e acham que isso está mesmo superado, é um caso perdido e nada há para se colocar no lugar. Percebi, também, um pensamento tosco e perverso: o trabalho com esse público – leia-se: a população como um todo – é “simples”, “fácil” e não exige um desenvolvimento intelectual maior por parte do profissional. Esses modos de pensar, talvez, expliquem o distanciamento que existe entre os novos profissionais e a população. Certamente, alguém vai atribuir aos baixos salários na esfera pública a debandada geral. Mas baixo salário não é causa, mas conseqüência da falta de políticas públicas de informação.
Uma das tarefas que solicitava aos meus alunos era a seguinte: “Se um prefeito esclarecido de uma cidade de 30 mil habitantes pedisse a você para construir um serviço de informação pública que plano apresentaria?” É uma tarefa difícil, provocativa mesmo, e não só para os alunos, mas para quaisquer profissionais, inclusive para os “cientistas da informação”. Creio que as universidades públicas – onde se concentra, hoje, a maioria dos cursos de “biblioteconomia” e derivados – devem dar uma resposta, pois elas, pelo seu caráter público, têm compromissos com o público. Ou não? Será que estou delirando?
A universidade pública está longe de discutir questões relacionadas ao público. Os cursos formadores de "bibliotecários" estão empurrando "goela a baixo" o curso de "Ciência da Informação" e os problemas tecnológicos que rondam essa "área do conhecimento". Como se tudo fosse resolvido sobrepondo novos conceitos aos velhos problemas.
ResponderExcluirAs bibliotecas escolares e públicas, infelizmente, são assuntos pouco discutidos em sala de aula. O estudante de Biblioteconomia precisa encontrar meios de valorizar esses espaços, entusiasmando-se com a possibilidade de trabalhar com a formação de leitores críticos e a capacitação do usuário na utilização de instrumentos de pesquisa, por exemplo.
ResponderExcluirNotícia replicada do jornal The Guardian:
ResponderExcluirBiblioteca Digital Mundial será lançada no dia 21 de abril
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/livros/biblioteca-digital-mundial-sera-lancada-no-dia-21-de-abril/?ga=dtf
Volto a bater na mesma tecla: o problema é, primeiramente de ordem política.
ResponderExcluirFalta-nos protagonismo e ações coletivas para interferirmos nas políticas públicas.
O que era novo em 1983, tornou-se obsoleto na na gramática líquida da modernidade. Acho que estas categorias "público escolar", "público especializado", "público acadêmico" etc.
Em segundo lugar, o problema é de ordem cultural: o Brasil chegou à independência sem projeto educacional capaz de superar as fissuras da deculturação jesuítica que, via catequese nas tabas, prefixara o “caminho da salvação” pela propagação da fé, negação do corpo e expiação dos pecados. De instrumento para civilizar os bárbaros, a “escola” passou a ser espaço de “inclusão” das populações residuais da nossa história, sob a tutela do Estado. De lá para cá, confinado à mera transmissão de conteúdos, exames e outras exigências inibidoras da aventura de ler e conhecer o mundo, esse modelo oco “quem não reproduz é reprovado” fez da escola um espaço “desinteressante”!
Políticas educacionais vicárias, em doses de mandato, resultam sempre inócuas. Costumam desdenhar a importância das bibliotecas, ora desconhecendo ora anulando intencionalmente, tratando-as como apêndice deteriorado de uma educação forjada na e pela ignorância. Biblioteca escolar é para ser vivida como espaço de aprendizagem. Se não for vivida, embora dadivosa na oferta de saber coletivo, perde a sua função.
A sociedade pune quem a trata com desdém. Há demanda por mudança, mas faltam iniciativas estratégicas que visem à promoção da inclusão social, e não só digital. Sem a vivência cultural da biblioteca escolar aliada às competências para aprender a se informar, o poder público pode até “zerar estatísticas”, a despeito dos que se mantêm à margem do pensar e do saber, mas, assim, deixamos apenas de ser “ignorantes” em nível local para sermos “ignorantes” na aldeia global.
Edison Santos - editor http://clinicadotexto.wordpress.com/