quinta-feira, 9 de abril de 2009

ALGUÉM PODE ME DIZER QUAL É A DIFERENÇA ENTRE INFORMAR E COMUNICAR?

O Curso de “Biblioteconomia e Documentação” da USP está dentro de uma Unidade denominada Escola de Comunicações e Artes. Como essa “Biblioteconomia” não é Artes Plásticas, Artes Cênicas ou Música, só pode ser Comunicação. Disso resultou uma dúvida generalizada: o “bibliotecário” é um comunicador? A tendência inicial é dar uma resposta positiva, uma vez que ele atende a um determinado público e se relaciona com esse público e, portanto, se comunica com esse público. Na prática, como isso se dá? Uma biblioteca bem organizada deve dispor de instrumentos que, normalmente, estão no âmbito do que se denomina “comunicação organizacional”, visando produzir mensagens com o uso de todos os meios para estabelecer a imagem que se deseja para os serviços oferecidos. Mas isso não indica que o “bibliotecário” possa ser caracterizado como comunicador. Se assim fosse, quaisquer profissionais seria, pois todos procuram ter uma boa imagem junto ao seu público. A pergunta feita era um pouco mais complicada: esse profissional é um informador ou um comunicador? Aí está o nó, pois é preciso distinguir com precisão o que é informação e o que é comunicação.

Li esta frase de autoria de George Gilder (?) e a dúvida aumentou: “Passaremos do século da Informação para o século da Comunicação. A primeira está em quem transmite. A segunda está em quem recebe.” Tenho algumas idéias sobre isso, mas não é pertinente trazê-las aqui. Vou dar uma volta bem ampla e tocar numa nova modalidade de serviço – ainda um objeto não claramente identificado: o “museu virtual”. Aliás, não dizem que a Biblioteconomia, Museologia e Arquivologia são irmãs? E filhas de quem? Da “Ciência da Informação”?

Em São Paulo temos dois conhecidos museus virtuais: o da Língua Portuguesa e o do Futebol. Foi inaugurado, recentemente, outro, uma espécie de museu da ciência, aqui denominado Catavento, que também usa recursos da computação. Podemos fazer alguns exercícios mentais, engendrando um “Museu Virtual da Comunicação”. Nesse museu um segmento, certamente, seria Gutenberg e a Imprensa. Num determinado ambiente o usuário poderia ver em três dimensões os tipos móveis e a prensa primitiva. Eventualmente, teria interesse em ver a famosa Bíblia e folheá-la. Isso seria feito por meio do Kindle que traria à mão (veja o próximo post). E mais, se fosse de seu desejo teria acesso à bibliografia do século XVI por autor, assunto, data de edição... Posso voltar ao ambiente três dimensões e ver bibliotecas desse século... e assim num desdobramento infinito teria alcance à informação apresentada sensorialmente, bem como navegaria pelos registros digitalizados. Em outras palavras, num mesmo serviço e ambiente poderia juntar o museu virtual com a biblioteca digitalizada.

Isso não é delírio e nem profetismo: é possível e com preços progressivamente menores. E vem a pergunta fatal: quem criaria serviços como esses? O comunicador ou o informador? Ou será que tudo isso não se funde num único profissional com outras práticas e outra visão de mundo?

11 comentários:

  1. Todos somos comunicadores potenciais, mas , ultimamente, é fato que estamos mais para comunicadores funcionais do que qualquer outra coisa. Mal sabemos o que comunicamos. Comunicar, não necessariamente, gera informação.
    A informação passa por um processo crítico, é o conhecimento esperando para ser transmitido.
    Ambos importam: Informar e comunicar, comunicar e informar. Mas só juntos funcionam!

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  2. Felipe: se descobrirmos que somos também comunicadores a nossa área profissional jamais será a mesma. Como comunicadores estaremos de olho no receptor e aí tudo muda. Uma pergunta: você já cursou alguma disciplina sobre "usuário", "público" ou "receptor"?

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  3. Até mesmo quando dizemos a alguém na rua "Olá!", estamos estabelecendo comunicação. Informar envolve transferência de conhecimento.

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  4. Milanesi, este post fez-me lembrar um episódio ocorrido na ECA há pouco. Talvez este comentário fuja do tema (Informação X Comunicação), ou não... vc mesmo advoga que é preciso ver a floresta para compreender a folha...

    Bem, vamos aos fatos. A aula inaugural da ECA neste 2009 contou com a preleção de dois professores (não citarei nomes, mas para quem quiser saber, os fatos narrados facilmente vão apontar os protagonistas...) e, de forma inédita, um da área de Comunicação e outro, da área de Artes. Este arranjo, frise-se, foi muito relevante dada a conhecida "divergência" entre os cursos de Comunicações e os de Artes na ECA-USP (quando ainda aluna do curso de Biblioteconomia, nunca entendi o escárnio com o pessoal dos cursos de Artes, a "turma do fundão" - até a disposição física dos prédios da ECA levava ao menosprezo pela sua parte Artes...), numa tentativa de aproximação entre as duas áreas.

    Pois bem. A prelecionadora das Artes começou primeiro. E fez sua exposição oralmente, sem lançar mão de nenhum artefato físico para apoiar sua fala (a não ser o microfone...)fato comum na área de humanas em geral. Não vou aqui discutir o conteúdo da mensagem, apenas sua estrutura. Na sua vez, o prelecionador das Comunicações atuou como um verdadeiro showman: com uma apresentação em powerpoint cheia de imagens, cores, som... com o detalhe: enquanto a primeira não fez distinção entre os presentes, falando a todos os alunos (tanto de Comunicações como de Artes), o segundo já iniciou sua exposição com um proverbial "agora vou falar para os alunos de comunicações"...

    Mas o pior ainda estava por vir. Este professor de comunicações, íntimo de tecnologias e um seguidor de novas tendências confesso, teve a pachorra de postar no seu Twitter, novo modismo tecnológico visto como uma espécie de telégrafo digital, para comunicações online curtas e rápidas, um comentário sobre a dita aula com teor mais ou menos assim: acabei de dar aula com a "tia".... a aula dela foi rasa... é evidente que ela não preparou a aula...

    Prá quê? Algum aluno das Artes acessou, e espalhou a ofensa aos demais. Houve revolta, fizeram um abaixo assinado que correu a ECA, pregaram um cartaz em papel pardo (!) na porta do Teatro, exigindo a retratação do professor em letras garrafais, até passeata teve...

    Fiquei pensando, cá com meus botões:

    - O fato da professora ter se pronunciado inteiramente na base do gogó não significa que ela não tenha preparado a aula. Em muitos casos, até, a capacidade de expor oralmente, por 2 horas ou mais, só demonstra competência do orador na matéria exposta, ao contrário de muito professor que lança mão de mil e uma parafernália tecnológica para encobrir uma patente falta de conteúdo... Mas é fato que a geração atual, criada na televisão, videogames e afins, demanda novas formas expositivas de aula;

    - O poder disseminador da maledicência via Twitter (ou por blogs, orkut, etc, etc) foi muito mais amplo do que as ações físicas, pontuais, dos alunos de Artes... que restringiram a reação apenas ao quadrilátero ecano;

    - E por fim... comprovou-se o divórcio entre as Comunicações e as Artes - esta, lidando com a expressão física (Artes Cênicas), os sons (Música), as sensações visuais e táteis (Artes Plásticas) e aquela... embrenhando-se cada vez mais na virtualidade, na não realidade (a exemplo do museu virtual citado por vc...)

    Em analogias com outros posts ("Darwin" e "O que os jovens vão fazer na Lan House", "Dewey e Piaget", além de outros...) pergunto se não estamos esquecendo a dimensão humana do fazer bibliotecário, nesta discussão abordando a área frente às novas perspectivas tecnológicas. Além de Dewey, precisamos, sim, de Piaget, mas também de não perder de vista nossa essência humana, e nisso as Artes e todas as suas vertentes nos ajudariam, e muito. Acho que a ECA deveria fazer jus à sua denominação Comunicações "E" Artes...

    E desculpe-me se falei demais.

    Bjs!

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  5. Esse episódio que envolveu um professor de Comunicação e uma professora de Arte, conhecendo ambos, não acredito que seja uma divisão de território. Talvez de personalidades - bem diferenciadas. Eu sou de "Comunicação" (ou "Informação"?) e não gosto de usar powerpoint. Toda vez que tentei fui um fracasso de... comunicação. No entanto conheço pessoas das artes fiéis cultores do powerpoint. Acho que a tecnologia é só mais uma ferramenta que vai humanizar mais os humanistas e tecnologizar mais os tecnólogos.

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  6. A separação entre Informação, Comunicação e Artes é burra, principalmente se acontece em nossa Escola. Quem acredita nesse divórcio entre as áreas não sabe da beleza que é vê-las juntas. Não quero entrar a fundo na questão do informar e comunicar. No entanto, o comunicar tem uma característica de seleção de conteúdos que ultrapassa o simples ato de informar. O bibliotecário é um informador. Como as ferramentas de comunicação estão mais próximas de nós nos dias atuais, talvez seja possível falar em um ¨infocomunicador¨.

    Observação: o comentário anterior ao Prof. Luis Milanesi está muito bem escrito (forma e conteúdo). No entanto, faltou a identificação da “autora”. Gostaria de saber quem escreveu essa mensagem. Isso vale para outros comentários de pessoas que não se identificam. Acredito que não precisamos ter medo de expressar nossas opiniões e idéias neste blog. O máximo que pode acontecer é alguém discordar do comentário. Daí, isso se torna uma reflexão que pode trazer grandes benefícios a todos.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Leonardo, obrigada por seu elogio ao meu comentário.

    Mas prefiro manter-me incógnita. Tenho minhas razões.

    Vou adotar um pseudônimo, então.

    De agora em diante, serei "Rosa", simplesmente.

    Como Gertrude Stein escreveu,

    "Uma rosa é uma rosa é uma rosa..."

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  9. Tudo bem Rosa. Seu pseudônimo lembra-me a Rosa de Manoel Bandeira, que nos tempos de menino contava histórias para ele (Vou-me embora pra Pasárgada). Você contou um causo para nós, portanto, pertinente sua identificação. Grato pela resposta.

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  10. Milanesi, eu ja tive aula sobre usuario e dou a devida importancia, até porquê continuo sendo um.rs.

    Eu quis dizer no modo geral mesmo. A importancia de comunicar é essencial, e só com ela conseguiremos quebrar a barreira que existe entre bibliotecario-usuario.

    Até!

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  11. Não sei se somos comunicadores, mas tenho certeza que deveríamos ser. A comunicação faz toda a diferença para que possamos ser mediadores entre a informação e o usuário.
    Com disse o colega Frederico, a Biblioteconomia está inserida no Centro de Ciências da Educação nas universidades de Florianópolis-SC (UFSC e UDESC), acho que é por isso que há uma grande preocupação para que o bibliotecário além de comunicador também seja um educador.

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