terça-feira, 14 de abril de 2009

ARQUIVOLOGISTA: PAPEL EM CRISE

Não conheço detalhadamente os currículos dos cursos de Arquivologia (ou Arquivística como dizem alguns) existentes nas universidades brasileiras. Pelo que consta ela é irmã da Biblioteconomia e da Museologia e podem aparecer juntas sob a sombrinha da “Ciência da Informação”. No entanto, como a “Ciência” está no singular, não creio que elas integrem como uma ciência particular ou façam parte de ciência maior, mesmo não sendo uma ciência. Belo imbroglio, como dizem os italianos.

A apresentação do Curso de Arquivologia da UnB que, suponho, seja um dos mais atualizados, no seu primeiro parágrafo, dá o cenário onde atuará o arquivologista (ou arquivista?):

"Pilhas de documentos encostados no canto de uma sala, milhares de informações importantes perdidas em papéis sem qualquer identificação. A cena é recorrente em vários órgãos públicos e em empresas privadas que, na maioria das vezes, não dão o valor necessário aos documentos que contam sua história. Certidões, comprovantes e relatórios, que podem fazer a diferença na vida de várias pessoas, são deixados de lado por falta de organização."

Essa visão do inferno todos nós conhecemos. Há um acúmulo de desorganização, onde não apenas pouco se encontra como tudo está sob ameaça permanente de se perder de vez. E faltam pessoas e recursos para ordenar esse caos.

Ao lado disso, temos visto em setores administrativos esforços claros no sentido de NÃO mais produzir toneladas de papel. Em algumas organizações mais atualizadas, o que a legislação permite, já é digital e circula pela internet. Aos poucos essa migração será acelerada e. dentro de um tempo que não se pode prever, carimbos, assinaturas e tramitação tortuosa deixarão de existir. Pelo que percebo, estamos nesse processo de mudança há algum tempo e é irreversível.

Creio que é sob essa luz que a Arquivologia – que eu preferiria chamar de Informação Administrativa – deve ser vista. Em outras palavras: a preocupação é, não apenas, informatizar o remanescente desorganizado, mas criar as novas formas e plataformas de circulação de documentos administrativos. E aí vem a pergunta: esse profissional não deveria ser a integração do administrador com o analista de sistema?

Outra pergunta: no futuro, que já é presente, sendo criadas grandes organizações informatizadas (por exemplo, a administração federal) o ordenamento não será pré-estabelecido e o administrador, simplesmente, não digitará algumas teclas para localizar ou arquivar?

Se hoje há um caos de papéis e traças que um batalhão terá dificuldade para desinfetar e ordenar, amanhã esse batalhão deverá ter novas funções no campo da organização de sistemas. O prognóstico – que serve para a vasta e velha Biblioteconomia – é que essas novas funções serão desempenhadas por outros profissionais e a Arquivologia, este filme nós já vimos, poderá perder espaço para engenheiros de sistemas digitais, especialistas em banco de dados e conexos. E quem dialogará com esses engenheiros serão os administradores. Mais uma vez ficamos num meio de campo meio embaçado e confusos com a síndrome de terceiro escalão.

Um comentário:

  1. Professor Milanesi,
    Respodendo aos seus questionamentos, a arquivologia é irmã da biblioteconomia.Melhor ainda: a arquivologia ou arquivistica é a parte da documentação, aqui me reporto a Paul Otlet, que a biblioteconomia esqueceu. Quando se deixa de lado alguma coisa, sempre aparece alguem pra tomar conta. Foi o que a biblioteconomia fez com os documentos de arquivo. A arquivologia após a revolução francesa, deixou de ser uma disciplina auxiliar da história e passou a ser um campo autônomo e é tão antiga quanto a biblioteconomia. Possui duas correntes: a européia, que prima pelo valor histórico do documento e a americana que prima pelo valor administrativo, probatório e legal do documento. A primeira, percebe que os documentos produzidos e recebidos em decorrencia das atividades de uma instituição ou pessoa, devem ser preservado, pois possuem valores históricos, uma vez que serve como fontes primárias para pesquisadores e historiadores. Enfim, são a materia prima para a reconstrução da historia.
    Quanto a segunda, o documento nasce da necessidade da instituição ou pessoa, no decorrer das suas atividades ou funções, possuindo, a priori, valores que servem a administração ou ao administrador. Ou seja, o documento não surge, em principio, como fonte de testemunho.
    A questão do abandono dos documentos é pela falta de consciencia dos gestores das instituições públicas, que não valorizam o profissional arquivista e não tem noção da importancia dos documentos que geram. Se o documento tem valor administrativo é porque as informações nele contidas, serve como indicadores para tomada de decisão. Recentemente uma empresa tratou de cuidar dos seus documentos porque uma causa trabalhista a obrigou a pagar R$ 200.000,00, porque o documento que ela deveria ter para provar que estaria isenta de pagar esse valor, não foi encontrado. Isso prova que a documentação/informação arquivistica deve ser organizada,tratada para servir como elemento de tudo isso acima já mencionado.Todo documento de arquivo possui valor primario e secundario. O primário serve a administração e o secundário a historia.
    Como a arquivologia possui como objeto de estudo a informação, tem tudo a ver com a biblioteconomia e a Ciência da Informação. Minha tese trata sobre gestão de documentos produzidos em universidades federais brasileira, especificamente na UFPB, com relação a gênese, produção e uso da informação.
    É uma área que vem crescendo e se firmando, pois possui principios já definidos. Temos um alguns teóricos na área aqui no Brasil, como é o caso de José Maria Jardim, Luiz Carlos Lopes, Odila Fonseca, Heloísa Liberalli Belloto e outros que trabalham no Arquivo Nacional. Atualmente contamos com dez cursos de Arquivologia no Brasil: dois no Rio de Janeiro, dois criados recentemente na Paraíba, (UFPB e UEPB), um na Bahia,dois no Rio grande do Sul, um no Paraná, um no Espírito Santo, um na UNESP, em São Paulo.
    Os engenheiros e especialistas entendem de arquitetura digital, mas de tratamento, organização e uso da informação, entendemos nós.
    Um abraço

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