quinta-feira, 16 de abril de 2009

O PERFIL DOS ALUNOS

Edilson fez um comentário no post "Informação Pública: que bicho e esse?" onde menciona a falta da dimensão política no profissional da informação. Esse é um assunto, para mim, muito intrigante. Não sei o motivo, mas os profissionais da antiga Biblioteconomia raramente se meteram em questões políticas. Na ECA eu ministrava uma das disciplinas para todas as áreas, além da Biblioteconomia: Jornalismo, Artes Cênicas, Relações Públicas, Cinema, etc. Os alunos de Biblioteconomia sentavam-se juntos e, pelas características, eu denominava o grupo de "a minha ilha do silêncio". O fenômeno repetia-se ano a ano. E de tal forma que eu cheguei a uma conclusão: não era a Biblioteconomia que moldava a cabeça dos alunos, mas as cabeças já moldadas é que escolhiam a Biblioteconomia. Curiosamente, os jovens que que queriam ser jornalistas eram bem diferenciados dos alunos que desejavam ser bibliotecários, ainda que ambos escolhessem, de forma variada, trabalhar com informação. Na realidade, os alunos da Biblioteconomia optavam por UMA imagem da profissão (a rotina silenciosa, o convívio com os livros, a visibilidade social limitada...) e não pelo perfil real de um agente/gestor/ator da informação. Será que o perfil dos nossos alunos mudou? Me vem à lembrança o Machado de Assis do Soneto de Natal:
"E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

6 comentários:

  1. Ei sinto latente essa diferença entre os alunos da Biblioteconomia e da Comunicação da UFMG, onde os cursos estão em departamentos totalmente separados, mas em prédios vizinhos, com corredores internos interligados. Quando eu atravesso os corredores, dá para sentir a transposição da fronteira epistemológica pelo jeito de vestir dos alunos.Os da comunicação tem estilo, são mais modernos, os da biblioteconomia sempre são mais normais, recatados, mas no fundo eu penso que eles têm um certo fetiche secreto (e sagrado) com o papel como dispositivo, uma nostalgia. Talvez esse fetiche seja o motivo da resistência a novas reconfigurações do campo da CI.

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  2. Essa questão é complexa para discutir no Blog, pois cada um tem seus objetivos pessoais para escolher uma carreira. Não escolhi Biblioteconomia pelo silêncio da profissão, mas sim pelo seu contanto com a cultura e as artes (especialmente pela ECA). Sempre gostei de fazer disciplinas com meus amigos das Comunicações e Artes: jornalistas, publicitários, audiovisual, artistas plásticos, músicos... Também, com meus amigos da Administração, da matemática, filosofia, letras, ciências sociais na USP. Acredito que não adianta ficar com esse papo de que um aluno é diferente do outro por causa do curso. Quando o estudante mostra sua competência nos trabalhos (expressando idéias e discutindo de de forma igual) logo todos percebem que é pueril classificar a pessoa pelo curso ou pela coletividade que o representa.

    Gostei da expressão ator da informação, ou seja, um profissional protagonista da história.

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  3. Acredito que o perfil dos alunos está mudando. Tomo como exemplo a minha turma (graduação em 2007). De lá saíram muitos bibliotecários politicamente ativos, dispostos a mudar a realidade da profissão. Todas as discussões que tivemos em sala de aula, junto ao centro acadêmico e com nossos pares me fazem perceber que ao menos na UDESC não existe mais a Biblioteconomia passiva de antes.

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  4. Na minha universidade, a UFRGS, a Ciência da Informação (Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia) fica no mesmo prédio que a Comunicação (Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda), e em alguns momentos pode-se ver essa "diferença" entre os alunos. Nunca me esqueço quando um aluno da RP disse para mim que a Biblioteconomia era uma lenda ali na Fabico.
    Apesar dessa distância aparente, pude presenciar que isso é da cabeça de alguns. Em algumas cadeiras que fiz e que havia alunos de outros cursos, em apenas uma fiquei "isolada", pois o grupo de futuros bibliotecários que havia nessa turma foi desistindo e apenas eu fiquei, e os outros grupos não davam abertura para "socializar".
    Entretanto, tive uma grande experiência quando resolvi fazer uma cadeira do currículo da PP. No início o único a falar comigo era um amigo meu, mas ele desistiu da cadeira. Não foi surpresa quando me isolaram da turma, porém mais tarde uma guria me chamou para fazer parte do seu grupo. Pude conhecer mais da área dela e ela da minha. A troca de experiências foi ótima!
    Acredito que essa diferenciação está na cabeça das pessoas. Alguns resolvem se isolar e outros se comunicar, trocar experiências e ideias.
    E, para finalizar, concordo com Paula. Também com meus colegas houveram tais discussões e é exatamente isso que procuramos: deixar de lado a Biblioteconomia latente e torná-la mais ativa. Que bom que essa ideia não é um caso isolado e que há comunicação na Biblioteconomia!

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  5. Curiosidade: Alguem tem ideia de quantos estudantes (mais ou menos) de biblioteconomia se formam por ano em SP e no Brasil?

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  6. Abelha: por gentileza, leve esta pergunta para a rede social que criamos para substituir esta. Entre aqui: http://embuscadabibliotecaperdida.ning.com.
    (LM)

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