quinta-feira, 16 de abril de 2009

PIAGET & DEWEY 2

Um "anônimo", com razão, apontou um erro meu no neste parágrafo do post Piaget e Dewey: 

A Biblioteconomia secular não prepara pessoas para trabalhar com esse público complexo [os escolares]. E muito menos se preocupam com ele as instituições que buscam formar “cientistas da informação”. Para os primeiros diria que trabalhar com o público infanto-juvenil pede menos vale Dewey e mais pesa Piaget. Para os segundos, não sei o que esperar, talvez um Paulo Freire temperado com epistemologia?Para os primeiros diria que trabalhar com o público infanto-juvenil pede menos vale Dewey e mais pesa Piaget. Para os segundos, não sei o que esperar, talvez um Paulo Freire temperado com epistemologia?

O erro na terceira frase permite retornar ao assunto. Antes, corrijo: "Para os primeiros diria que trabalhar com o público infanto-juvenil pede menos Dewey e mais pesa Piaget." A frase, se lida com atenção, sugere vários desdobramentos e vai desaguar num dos mais complicados problemas de nossa área: a formação profissional. "Dewey", no caso, expressa a tremenda carga tecnicista tradicional. E há os novos tecnicistas (assunto prá logo mais). Com "Piaget"  sinalizei para a necessidade de olhar e entender os que fazem uso dos serviços que oferecemos. Piaget passou a vida estudando crianças e mudou o modo de vê-las.  Se o informador/comunicador não conhecer muito bem o seu público criança/escolar... certamente não vai fazer um bom trabalho. 

No entanto, no último desdobramento da frase, está clara a idéia mais forte: a necessidade de mudanças fortes na área. O informador que se dedica a escolares deve cursar parte dos quatros anos na Faculdade de Educação. E os que já se formaram em Educação fariam mais dois anos nas faculdades de comunicação/informação. Aliás, essa sugestão me custou uma denúncia ao Conselho de Biblioteconomia por quebra da ética profissional.  

E podemos, ainda, imaginar um outro e mais explosivo sentido oculto: No momento em que Informação se espalha por várias áreas do conhecimento ela só fica clara se vier acompanhada de algum outro termo: Informação Administrativa, Informação para Negócios, Informação Pública e, também, Informação para Educação. A frase do Piaget versus Dewey é uma típica "fácil falsa". 

Um comentário:

  1. A fim de motivar a discussão, transcrevo aqui o artigo de um usuário de biblioteca pública:

    O FIM DAS BIBLIOTECAS MUNICIPAIS

    Nostalgia é o oitavo pecado capital destes tempos. Incorro nela de quando em vez, e sinto o olhar reprovador de quem está por perto e nota a infração. Confesso que, num desses acessos de nostalgia, cometi o crime de visitar a biblioteca pública do meu bairro.
    Cheguei de mansinho, talvez pensando em reencontrar nas prateleiras os livros que mais me influenciaram e emocionaram. Encontrei racks de metal com volumes empoeirados à espera de um leitor que nunca mais apareceu. O lugar estava oco. A bibliotecária me atendeu com aquela suave descortesia paulistana, como se o visitante fosse um intruso a ser tolerado, mas não absolvido. Eu me senti uma assombração do passado a importunar a ordem do agora.
    “Procuro uma coletânea de contos fantásticos do Aluísio Azevedo”, disse à senhora. “O senhor trouxe a referência?” Não. “Por que não consultou o catálogo pela internet?” Sei lá por quê, eu só queria parar e ler uns livros difíceis de encontrar e talvez levar emprestados... “Os empréstimos são limitados a quatro volumes, e a devolução acontece em 15 dias”, ela metralhou, com os olhos pregados no monitor velho e encardido. Por fim, informou que não tinha o livro que eu buscava. Virei as costas, imaginando o alívio da funcionária em me ver ir embora. Agora ela podia voltar a sua preguiçosa solidão.
    Em tempos idos, eu encontrava nas bibliotecas públicas um abrigo para meditar, planejar e fugir do mundo. Passeava pelas estantes como quem viajasse por outros mundos, tempos e realidades, memórias, histórias, uma lição de vida aqui, uma descoberta da crueldade humana ali, fantasias inúteis acolá. Devo às bibliotecas a minha formação.
    Fiz mestrado e doutorado passando tardes enfurnado na Mário de Andrade e no Arquivo do Estado. Anos atrás, as bibliotecas de bairro eram cheias. Os usuários se interessavam por cultura, e não apenas como uma ferramenta para subir na vida. Havia oficinas e debates. Os livros de poesia e os romances não paravam nas prateleiras. Agora os ácaros venceram os leitores.
    Saí da biblioteca e me dirigi a uma lan house repleta de moleques e adultos, absortos em pesquisar, mandar e-mails etc. Pela internet, encontrei “O Touro Negro”, de Aluísio Azevedo, disponível em arquivo digital. E pensei: perto de uma lan house imunda como aquela, as poeirentas bibliotecas municipais lembram santuários abandonados. Não espanta que a prefeitura queira fechá-las. Elas não servem mais a ninguém. Nem mesmo a mim, que sempre as amei.

    LUIS ANTONIO GIRON é jornalista e editor de cultura da revista Época.
    e-mail: luis.giron@metrojornal.com.br

    Fonte: Artigo publicado no tablóide Metro, em 25.03.2009. Disponível em: http://www.readmetro.com/show/en/MetroSaoPaulo/20090325/1/14/

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